quinta-feira, 10 de setembro de 2009

A dança como resposta à violência


Zero Hora

publicou

08-09-2009


A dança como resposta à violência


Em meio à correria da viagem ao Brasil, a coreógrafa Paula de Vasconcellos parou para conversar com ZH. Desculpando-se pelos pequenos deslizes com o idioma da pátria de origem (que diz não falar desde criança), a portuguesa radicada no Canadá explicou o interesse em Tarantino e nos signos com os quais o cineasta trabalha.

Zero Hora – Kiss Bill anuncia-se como uma mistura entre dança e teatro, humor e romantismo, masculino e feminino. Por que lhe interessam essas dualidades?

Paula de Vasconcellos – A dualidade é um principio fundamental da humanidade. Tudo tem o seu contrário. Kiss Bill tem uma proposta inversa à do mundo do Tarantino: o amor e a compaixão em resposta à violencia de seus filmes.

ZH – Por que Tarantino? Trata-se de um artista que trabalha com uma linguagem diferente, que é a do cinema. Além disso, você é portuguesa e trabalha no Canadá. Qual a razão do interesse num cineasta americano?

Paula – Não me interesso muito pelos filmes dele. Mas gosto de imaginar que estou conversando com ele, para tentar perceber o que é que o fascina tanto no universo de pistolas, crimes etc. Por que o mundo inteiro está fascinado com esses temas? Tarantino tem esse fascínio, mas o demonstra com um sentido fantástico de humor, por isso decidi brincar com ele em Kiss Bill. Quanto à minha origem: considero-me canadense, moro no país desde os quatro anos. Mas sou imigrante, o que significa que sou cidadã do mundo, que estou sempre a tentar entender os outros, os “diferentes”, muito em função de ter sido “arrancada” da minha pátria. Meu caminho é de descoberta desses diferentes, e também de uma integração das várias culturas que me atingem.

ZH – Como o humor físico e o visual forte dos filmes de Tarantino pode ser transportado para o palco? No cinema esses elementos ficam ressaltados.

Paula – A ideia foi dar uma estética cartoon aos movimentos das artes marciais e a essa linguagem inventada que é a dos homens machos. O que nos permitiu chegar com facilidade ao humor. Foi muito divertido fazer o espetáculo. Acho que, quando estamos trabalhando na criação de uma montagem, a reinvenção é constante. Partimos de uma coisa – no caso, o universo do Tarantino –, mas o resultado que alcançamos, ao que nossos corpos e nosso imaginário nos levam, pode ser muito diferente.

ZH – Que tipo de recepção você espera do público brasileiro?

Paula – Nunca nos apresentamos no Brasil, então a equipe está muito curiosa de ver o interesse das pessoas. Espero que seja um encontro forte. Para todos.



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infodansa 07-09-2009