sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Porto Alegre-RS : Bundaflor, bundamor


Canal Aberto - Márcia Marques
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Nova temporada
Bundaflor, Bundamor


Agosto/2011 – Porto Alegre/RS/Brasil
Luciano Tavares, Eduardo Severino e Mônica Dantas com intervenções de bailarinas convidadas

A coreografia Bundaflor, Bundamor retorna aos palcos da cidade de Porto Alegre na sala 209 na Usina do Gasômetro nos dias13, 14, 20 e 21 de agosto de 2011, sábados e domingos às 19h.

“Bundaflor, Bundamor” tem concepção coreográfica de Eduardo Severino e Luciano Tavares (Núcleo artístico da Eduardo Severino Cia. de Dança) e interpretação dos bailarinos Eduardo Severino, Mônica Dantas e Luciano Tavares, com intervenções Viviane Gawazee, Luiza Moraes e Luciana Hoppe, convidadas especialmente para esta temporada. As intervenções das artistas convidadas acontecem a partir do olhar de cada uma delas sobre esta parte do corpo, a bunda.

A obra que será mostrada em Porto Alegre é um desdobramento do espetáculo estreado em 2008. Esta nova versão foi mostrada em Santiago/ Chile no evento Sindicato da Performance2 em janeiro de 2010 com financiamento do Programa de difusão cultural e intercâmbio do Ministério da Cultura com o projeto Intercâmbio Brasil/Chile e na cidade de São Paulo no Teatro da Dança no projeto Bem Casado da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo em abril de 2010.  

A obra discorre sobre a bunda. Utilizamos como inspiração para a pesquisa coreográfica, textos do livro do historiador francês Jean Luc Henning, “A breve história das nádegas”. Bundaflor, Bundamor propõe um olhar diferenciado a essa parte do corpo humano, atentando para a sua constituição, o seu desenho e as suas possibilidades motoras. A bunda brasileira, formada graças à herança genética africana, é  massa carnal rebolante que mostra a nossa alegria mestiça, em algumas manifestações mais originais.

Eduardo Severino, Luciano Tavares, Mônica Dantas e bailarinas convidadas abordam com humor o imaginário brasileiro, brindando nos movimentos de seus corpos para além da banalização dos elementos que compõem o real e o simbólico desse universo.

Como dizia Drummond, “É o milagre de ser duas em uma, plenamente, e bunda é a bunda, redunda”. E bem como viu Jean-Luc Henning em sua breve história das nádegas, “A bunda é barroca, sim: a bunda é barroca. Curva e plenitude”.

Eduardo Severino Cia de Dança
A Eduardo Severino Cia de Dança, formada em 2000, mostrou seu repertório de onze espetáculos desenvolvidos desde sua formação em outros continentes e países como Carolina do Norte / USA, Rosário / Argentina, Montevidéo / Uruguai, Assuncion / Paraguai, Hannover / Alemanha, Santiago / Chile e Barcelona / Espanha, assim como nas diversas capitais e interior do Brasil, onde recebeu várias premiações.
O grupo desenvolve uma ampla trajetória de pesquisa em dança, e atualmente administra a Sala 209 do Centro Cultural Usina do Gasômetro no Projeto Usina das Artes onde amplia seu trabalho de produção e apresentação artística, aulas regulares, ações coletivas disponibilizando o espaço para que outros artistas e companhias desenvolvam e mostrem seus trabalhos.
Em 2007, idealizou a Mostra Movimento e Palavra, reunindo expoentes de várias gerações da dança contemporânea gaúcha, o evento já está na sua 7° edição. A Eduardo Severino Cia de Dança faz parte do grupo de artistas que compõe o Cooperação Sul, desdobramento do grupo de artistas de dança da sala 209, coletivo que recebeu o Prêmio Joaquim Felizardo/2009 pela Secretaria da Cultura do Município de Porto Alegre pelas ações que vem desenvolvendo. Em 2011 idealizou o projeto Trocando Figurinha, promovendo o diálogo entre artistas
Recentemente, em 2010, Eduardo Severino fez residência artística no Estúdio Nave com Adriana Grechi e Estúdio Oito Nova Dança com Luciane Favoreto e outros artistas, como Beti Bastos e Lívia Seixas na cidade de São Paulo com o projetoReciclagem e Aprimoramento financiado pelo Fumproarte/POA de Formação, criação e pesquisa. Em 2010, estreou Glórias do Corpo com financiamento do Edital Fumproarte/2009 para montagem e desenvolvem projeto de Intercâmbio entre Santiago/Chile, Montevidéu/Uruguai e Porto Alegre/Brasil.
Em seus dez anos de vida, a companhia realizou onze obras: Planetário (2000), Alma Tonta (2001), Lixo, Lixo Severino(2002), Ato Bruto (2003), A mão mansa do afeto (2003), IN/Compatível? (2005), Y KÛÁ - O silenciar de um rio (2006), a remontagem das obras Lixo, Lixo Severino e Planetário com o Prêmio Funarte de Dança Klauss Vianna 2006/2007, Bundaflor Bundamor em 2008 e Glórias do Corpo em 2010.
  

Ficha Técnica


Concepção coreográfica: Eduardo Severino e Luciano Tavares  Intérpretes/criadores: Luciano Tavares, Eduardo Severino e Mônica Dantas Intérpretes/criadoras convidadas: Viviane Gawaze, Luiza Moraes e Luciana HoppeTrilha musical: “Não me diga adeus” /Aracy de Almeida; “Melô de piripiri” /Gretchen Pesquisa musical: Luciano Tavares Mixagem: Jorge Foques Figurino e operações: elenco Fotos: Ines Correa Realização: Eduardo Severino Cia. de dança

Serviço

Local: Sala 209 – Usina do Gasômetro - Av. Presidente João Goulart, 551 Porto Alegre/RS
Dias: 13, 14, 20 e 21 de agosto, sábados e domingos - Horário: 19h
Ingresso: inteira – R$ 15,00 e meia R$ 8,00 (estudantes, melhor idade e classe artística)

Apoio: CaféStùdio internetdesign, Usina das Artes, Viñeta Estúdio, prefeitura de Porto Alegre, Secretaria Municipal da Cultura, DMAE, Rincão da Saúde.



Texto/crítica de Cássia Navas sobre a obra:

Bundaflor, Bundamor é uma obra que, de pronto, chama atenção. Pelo titulo, pelo ineditismo de um tema, presente no imaginário e no cotidiano de uma cultura corporal conjugada em vários cantos de nosso país.
Entretanto, a coreografia nos surpreende, sobretudo pela abordagem de traços deste universo. Luciano Tavares e Eduardo Severino, artistas da dança de longo curso, propõem-nos um humor seco e talhado, como se fosse em pedra. O palco se adensa aos poucos com as camadas de interpretação precisa, onde o humor se sobrepõe a mais humor, em preciosas dinâmicas de movimentação.
Estas resultam da experiência da dupla, e do entremeio que estabeleceram entre o texto do qual partiram – “A breve história das nádegas”, de Jean Luc Henning, e a observação atenta ao que passa a seu redor, na vida cotidiana de um país onde certos atributos corporais são hipertrofiadamente cantados em prosa e verso.
Bundaflor, Bundamor não é ode à anatomia do brasileiro. Ao contrário – estabelece-se como fenda coreográfica, por onde se espraia uma luz para reflexões sobre os “corpos do Brasil”, campo sobre o qual os artistas da dança trabalham sem cessar, posto ser cidadãos deste país.
A coragem de tratar o tema se sobrepõe à ousadia de sua abordagem coreográfica, de delicada contundência Por ela nos chega uma violência precisamente construída, que não choca sensibilidades mais delicadas, mas resta presente durante um tempo em nossos pensamentos e palavras.
Uma provocação bem construída, à maneira da dança. Ficamos a esperar mais obras desta estirpe, dentro da trajetória da dupla, de seus colaboradores e colegas de métier.
São Paulo, fevereiro de 2011.
Cássia Navas