quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Documentário de Wim Wenders celebra a arte de Pina Bausch


publicado na
em 14.02.2011


"PINA", homenagem em 3D do cineasta à coreógrafa, estreia com sucesso no Festival de Berlim. Morte de Pina Bausch, em 2009, quase fez Wenders desistir de projeto de longa data.


Filme celebra dança em vários palcos, incluindo as ruas


"Pina, eu não vejo você nos meus sonhos. Quando você vai vir me visitar?", diz a voz de uma das dançarinas da companhia Tanztheater Wuppertal no filme PINA, enquanto a câmera enfoca seu rosto e sua reação às próprias palavras.

O comentário dos próprios integrantes sobre seu trabalho, o relacionamento pessoal, o legado e as saudades da coreógrafa Pina Bausch (1940-2009) são alguns elementos recorrentes no documentário dirigido por Wim Wenders, estreado mundialmente neste domingo (13/02), no Festival Internacional de Cinema de Berlim.

Durante um bom tempo, os dois amigos vinham trabalhando num grande projeto: Wenders registraria em 3D os ensaios do Tanztheater Wuppertal, num road movie transcontinental. Até que, em 30 de junho de 2009, "aconteceu o inimaginável" – nas palavras do cineasta: Pina Bausch faleceu inesperadamente.

Toda a estrutura montada para a produção perdeu a validade e a razão de ser, a primeira reação foi o cancelamento sumário do projeto. Porém, passado um tempo de luto e reflexão, Wenders decidiu que era possível transfigurar a ideia original numa homenagem: não mais um filme com e sobre, mas sim para a artista.


Dançarinos da Tanztheater Wuppertal em imagem do documentário sobre Pina Bausch



Desejo de eternidade

É possível transportar para a tela – que seja em 3D – a magia do palco de dança, sobretudo a de um teatro-dança tão singular quanto o de Pina Bausch? Que a questão fique em aberto. Certo é que, pelo menos em um sentido, Wenders consegue ressuscitar o poder da coreógrafa.

Poucos minutos filme adentro, depois que se apresentaram os elementos de que ele será tecido – cenas filmadas no teatro e em locação, os pungentes depoimentos dos participantes, material de arquivo, Pina viva, no palco e nos ensaios, suas parcas, porém intensas palavras – tão logo essa trama se revela, um pensamento passa pela cabeça do espectador sensibilizado: "Sei que não é possível, mas quem dera que o filme nunca acabasse..."

E nisso PINA reproduz o sentimento que provocavam as tortuosas e avassaladoras Tanzabende da homenageada: o desejo de que o espetáculo nunca tivesse fim, que conseguisse vencer as fronteiras do tempo, assim como explodia o espaço do palco, as possibilidades dos corpos humanos. O anseio de que esse prazer artístico doloroso e desmedido fosse eterno.

Ou talvez quem esteja falando seja a infantil vontade de que Pina não tivesse morrido – de que gente como ela nunca morresse! Ou, quem sabe, se trate uma questão de sobrevivência: "Dance, dance senão estamos perdidos", ouvimos sua voz dizer, a certa altura do filme.



Cena das filmagens de "PINA"

Sonhos de dança

Se as aparições de Pina Bausch em pessoa são o elemento mais dilacerante do documentário, nas obras filmadas em técnica tridimensional a artista está tão viva como ao criá-las, quase 40 anos atrás. De sua enorme produção foram selecionados trechos de A sagração da primavera (1975), Café Müller (1978), Vollmond (Lua cheia – 2006) e Kontakthof (Pátio de contatos).

Este último oferece a Wim Wenders a oportunidade de explorar a absoluta mobilidade temporal e espacial própria à sétima arte. Pois Kontakthof existiu em três versões: a original, de 1978, dançada pela trupe do Tanztheater, inclusive a própria criadora; a de 2000, com leigos de terceira idade; e a de 2008, com estudantes entre 14 e 18 anos. (Os trabalhos de ensaio dessa última versão foram, aliás, registrados por Anne Linsel no documentário Tanzträume [Sonhos de dança], lançado na Berlinale 2010.)

A montagem enfatiza o específico e o imutável em cada uma dessas encenações: é um senhor que em meio a uma volta se torna adolescente; é a menina que, ao levantar a cabeleira loura, tem 40 e tantos anos. São raros e preciosos momentos em que o cineasta se faz notar como tal, embora sempre reverencioso para com o objeto e sujeito do filme: a obra bauschiana.



Wim Wenders e Pina Bausch juntos em 2008

3D or not 3D?

Neste terceiro round histórico da luta da cinematografia estereoscópica por um nicho permanente no mercado (os outros dois rounds foram na década de 50 e no final da de 70), PINA constitui um marco, segundo seus realizadores: trata-se tanto do primeiro filme de autor quanto do primeiro de dança a utilizar a técnica.

3D or not 3D, that is the question... mas uma questão que também não precisa ser respondida já. A justaposição com a metragem de arquivo de Café Müller, por exemplo, deixa óbvio onde o espectador de 2011 sai ganhando: a sensação de profundidade e a definição são infinitamente superiores, captam-se detalhes de textura da pele, cabelos, o suor dos corpos; por vezes tem-se a sensação de estar em meio aos dançarinos, dá quase para sentir o cheiro deles.

Entretanto, nos deslocamentos rápidos diante de fundo escuro, a cinematografia 3D também mostra suas (atuais) limitações, pois esses movimentos parecem pouco naturais, entrecortados. A impressão de perspectiva nem sempre é verossímil, por momentos as pessoas parecem figuras de papelão recortadas diante de um fundo. Talvez a técnica ainda precise amadurecer.



Cartaz do filme

A quarta dimensão

Seja como for, a sensibilidade e empatia do documentarista com seu tema fica provada em minúcias com o registro sonoro de A sagração da primavera. Wenders faz ouvir, quase em pé de igualdade com a poderosa partitura de Igor Stravinsky, os ruídos no palco, os passos, o roçar de peles e tecidos, e, acima de tudo, as respirações.

Assim, após um clímax orquestral extenuante, o que se ouve, no lugar da pausa musical, é o resfolegar estertorado dos dançarinos. Um "detalhe" que aproxima, sim, o cine-espectador da experiência teatral. Mas que principalmente o lembra de que não se trata "só de dança", membros se movendo ao som da música, atléticos supermarionetes. Trata-se de uma arte que amorosamente expõe e examina seres humanos em estados extremos, suas fragilidades e paixões.

"Amor" era uma palavra frequente no vocabulário da coreógrafa, ao lidar com seus intérpretes, como eles próprios contam. Palavra tornada perigosa, de tão desgastada, mas que nesse caso ganha sentido novo e palpável. Amor é a quarta dimensão, que torna tão grandiosa essa homenagem cine-coreográfica dos amigos e colaboradores de Pina Bausch. A qual, asseguram, esteve presente com eles durante toda a filmagem.

Autoria: Augusto Valente
Revisão: Alexandre Schossler




fonte :



São Paulo: CCSP centro cultural : Programação Especial




programação especial

 programação fevereiro de 2011



Eixo cruzado
Vila-cidade

O eixo curatorial arte-cidade-cultura foi implantado de forma inédita na instituição em 2010. Neste ano, com o desejo de levar as discussões deste eixo ao público, as curadorias de dança, música, teatro, literatura, cinema e a Divisão de Ação Cultural e Educativa trazem à tona uma primeira questão: como a vivência nas cidades, vilas, bairros e outros espaços de socialização influenciam na construção das obras artísticas de diferentes naturezas?
Vila-cidade é uma maneira poética de falarmos artisticamente do microcosmo das cidades. Ao mesmo tempo em que a cidade de São Paulo, por sua proporção de cidade-metrópole, já denuncia o paradoxal diálogo entre o micro e o macro, o pessoal e o impessoal, o próximo e o distante, também estabelece uma contraposição às cidades-vilas, cada qual exercendo ação sobre a produção cultural das localidades. Vila-cidade procura trazer ideias abstratas deste eixo cruzado para experiências concretas com os espetáculos, as contações de histórias, os workshops, as visitas mediadas e os filmes para um público de diversas faixas etárias.
Esta é a segunda proposição de trabalho colaborativo entre as curadorias e o educativo, potencializando, assim, temas e discussões convergentes e a interdisciplinaridade na instituição.
Neste contexto, o educativo, além de encabeçar o eixo institucional arte-cidade-cultura, atua no eixo cruzado como mediador que faz a ligação entre propostas artísticas, como propositor de ações e atividades culturais e educativas para os diversos públicos e como provocador que instiga a curiosidade e a reflexão.

encontro interdisciplinar

dia 26/2 - sábado

15h às 17h30 Vila-cidade
com: Cristiane Paoli Quito (diretora do espetáculo Vila Tarsila) Sérgio Vaz (poeta) e Pedro Granato (diretor do grupo de teatro Ivo 60) - mediação: Maria Tendlau (curadora de teatro do CCSP) - intervenções sonoras: Cia. do Tijolo (em cartaz com Concerto de Ispinho e Fulô)
Neste encontro o debate será em torno de como os territórios de origem e as áreas específicas na cidade influenciam as produções artísticas e culturais. Os discursos na mesa de debate serão expandidos para discursos sonoros e imagéticos a fim de provocar outros desdobramentos. A obra da pintora Tarsila do Amaral, presente no espetáculo de dança infanto-juvenil Vila Tarsila, é marcada profundamente por suas viagens e vivências no interior de São Paulo. Cristiane Paoli Quito comenta esta e outras obras, Sérgio Vaz representará as produções literárias da periferia da capital com o Sarau da Cooperifa e Pedro Granato comentará a experiência de dez anos do grupo Ivo 60 (em cartaz no CCSP com uma mostra de repertório). Haverá também exibição do curta-metragemRecife Frio, de Kleber Mendonça Filho. Sem necessidade de inscrição - Entrada franca - Sala Lima Barreto - informações: Divisão de Ação Cultural e Educativa - tel. 3397-4037


infanto-juvenil



dança

dias 19, 20, 26 e 27/2
Vila Tarsila



Foto: Marco Lima


grupo: Cia. Druw - concepção e direção: Cristiane Paoli Quito e Miriam Druwe - coreografia: Miriam Druwe - elenco: Adriana Guidotte, Tatiana Guimarães, Miriam Druwe, Bruna Petito, Elizandro Carneiro, Anderson Gouveia, Weide Barbosa e a atriz Luciana Paes
Dança contemporânea. (60min, livre)

Cristiane Paoli Quito e Miriam Druwe viajam pelo universo das artes plásticas e buscam inspiração nas cores brasileiras e antropofágicas da pintora Tarsila do Amaral. A artista nos dá passagem por suas vilas, onde o Abaporu esqueceu de se levantar e passeia com a criança... Sábados e domingos, às 16h - Ingressos: R$15,00 (retirada de ingressos: duas horas antes de cada sessão) - preço popular (retirada de apenas um ingresso por pessoa): todos os dias para 20% da lotação da sala (R$2,55) mediante a apresentação da Carteira de Baixa Renda e RG, conforme lei n° 11.357/93 - Sala Jardel Filho (324 lugares)

apresentações extras: dias 18 e 25/2, sextas, às 14h30, para núcleos e escolas, por meio de agendamento pelo email:visitasccsp@prefeitura.sp.gov.br - informações: tel. 3397 4036