22/06/2009 - 17:00Por Helô
Nassif
Já coloquei comentário no Fora de Pauta, mas queria também lhe dizer aqui o quanto estou chocada com a notícia da morte de Roberto Pereira. Semana passada, encomendei o livro de Eros Volusia para te mandar de presente (era pra ser surpresa, mas agora…). O livro, de autoria de Roberto, chegou e eu só não coloquei sexta-feira nos correios porque quero te mandar também um CD. Não conheci pessoalmente o Roberto, mas trocamos vários e-mails quando fui ao Rio conhecer a Eros, em 2002. Ele fez um trabalho excepcional, resgatando a memória da bailarina.
Aqui, a notícia do JB.
Morre Roberto Pereira, crítico essencial da dança
Monique Cardoso, Jornal do Brasil
RIO - A dança brasileira perde um de seus mais instigantes pensadores. Morreu aos 43 anos de insuficiência respiratória aguda, na madrugada deste domingo, Roberto Pereira – há 10 anos crítico de dança do Jornal do Brasil. Pereira era professor e coordenador do curso de licenciatura em dança da Escola de Artes Cênicas da UniverCidade, diretor da Companhia de Dança da Cidade e autor de 10 livros sobre o assunto, entre publicações acadêmicas e que registram a memória dessa arte e de suas personalidades. O corpo, velado neste domingo no cemitério São João Batista, será cremado em sua cidade natal, São José dos Campos, interior de São Paulo, a pedido da família.
Roberto Pereira era respeitado no meio, como crítico e professor, por sua consistente formação acadêmica. Era mestre em Filosofia pela Universidade de Viena, Áustria, e doutor em semiótica pela PUC de São Paulo, com a tese A formação do balé brasileiro e a crítica jornalística de dança: nacionalismo e estilização. Há pouco mais de dois anos conseguiu articular importante convênio entre a UniverCidade e o Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Graças a seu espírito realizador, cerca de 20 bailarinos consagrados da casa, entre eles Ana Botafogo, Aurea Hammerli e o atual diretor do corpo de baile, Hélio Bejani, serão diplomados em dança no final deste semestre.
– Lamento que ele não veja o trabalho concluído. Era um grande entusiasta. Conseguiu nos levar, muitos na casa dos 50 anos, de volta à faculdade. Há um imediatismo grande no meio; precisamos começar a vida profissional cedo demais e quase ninguém continua estudando – atesta Bejani.
Ana Botafogo conta que Pereira estava, pessoalmente, orientando as monografias dos formandos.
– Ele queria demais essa formatura. Para nós, bailarinos, ele foi maravilhoso. Fiquei arrasada, semana passada tive aula na faculdade com ele. Era muito ligado à história da dança. Seu livro sobre o balé Giselle é obra fundamental.
Roberto Pereira dedicou a carreira a pensar teoricamente a dança e contribuiu de maneira significativa para a produção de bibliografia para os que dedicam a esta arte. Ao lado da também professora e crítica Silvia Soter, era responsável pelos verbetes sobre o Brasil no Dictionnaire Larousse de la danse (2008, 2ª edição), publicação francesa com ressonância mundial. Finalizava a reunião de suas críticas, escritas para o Caderno B na última década, um perfil do coreógrafo Luís Arrieta e, ao lado da professora Sigrid Nora, organizava um volume da coleção Dez temas para a dança brasileira, das edições Sesc/SP. Também preparava, em parceria com coreógrafos, um espetáculo solo que apresentaria em setembro.
– Ele sempre estimulou nossa área com idéias incríveis e tinha uma imensa capacidade de realização. Conseguiu mudar várias coisas de verdade, para melhor – confirma Silvia Soter.
Foi curador do Panorama de Dança, do projeto Novíssimos e de outras iniciativas importantes, como os Seminários de Dança do Festival de Joinville, o maior do país. Em abril levou sua companhia para apresentações em Berlim.
– Além de amigo, ele era meu crítico. Sempre tratou do nosso balho com respeito. Na dança somos poucos e sempre trabalhamos juntos. Roberto era uma referência, seu trabalho construía um a maneira relevante de pensar a área e por isso é uma perda real, irreparável – lamenta a bailarina Márcia Rubim.
O crítico, que lançou obras sobre a vida e carreira de bailarinas como Eros Volúsia e Tatiana Leskova, também era atuante na construção da memória do balé.. Márcia Milhazes enaltece sua dedicação:
– A perda é, sobretudo, de seu papel de fomentador, que ainda tem tantos alicerces frágeis. É uma voz que se cala. Ele deixa um trabalho profundo. Era um resgate que quase ninguém fazia. Um jovem se dedicando à preservação desta memória, que levou para dentro da faculdade. Promovia remontagens de coreografias e, com a ajuda dos artistas do passado, abria caminhos da reflexão hoje. Estas vão ser as marcas que guardarei, deixadas pelo Roberto, a quem eu tanto admirava.
Outro grande nome da cena contemporânea, Esther Weitzman, homenageia o pesquisador.
– A família dança perde um de seus filhos mais entusiasmados. Um grande batalhador da nossa arte. Estamos de luto – resume.