Rio de Janeiro, 09/04/2009
Início de 2009, acordo e digo para mim mesmo: "Esse mês sai as entrevistas de vídeo para meu site que faz tempo quero fazer". Escolho Antonietta e em seguida Carlinhos de Jesus, e tinha (e tenho) a intenção de entrevistar várias outras personalidades da Dança de Salão. Idéia antiga, desde que entrevistei Trajano para meu livro e pouco tempo depois ele morreu. A sensação que tive foi de não ter prestado a real homenagem à ele e à Dança de Salão, pois não gravei nem áudio e nem vídeo. A partir de então decidi realizar entrevistas em vídeo para documentação da história da Dança de Salão.
Devo admitir que minha primeira entrevista foi pensada devido a idade da Antonietta. Não vou fazer de conta que não pensei que ela poderia morrer, afinal ela já tinha 81 anos e vários problemas de saúde, inclusive os problemas cardíacos que culminaram no infarto. Mas não esperava que fosse acontecer três meses depois da entrevista. Minha mãe morreu em novembro de 2007 e desde então tenho "arrumado a casa" para evitar surpresas, daí a vontade de registrar a história sem deixar para depois. Infelizmente essa preocupação deu certo logo de cara com a mestra. Segunda a família dela, tinha um mês que Antonietta não estava nada bem do coração (problema que já existia tinha um bom tempo) e uma semana antes do infarto fatal ela foi internada no Hospital Souza Aguiar, com muito bom atendimento, relataram. Mas na última semana já não existia esperança. Mesmo com os problemas de saúde a mestra não deixava de ir na Estudantina, cerca de um mês antes ainda ia. Os filhos tentavam convence-la a se cuidar, em ter assistência e diminuir os bailes, mas Antonietta era teimosa, não vivia sem dança. Nessas horas o dilema de deixá-la feliz indo aos bailes e em casa se tratando triste é bem complicado. Mas talvez compense mais a felicidade.
Com relação a entrevista, por sorte, uma profissional de TV canadense, que tinha adquirido meu livro, contactou-me e fiquei de apresenta-la às personalidades da Dança de Salão carioca para um documentário sobre Samba de Gafieira que ela estava começando a realizar. Ela decidiu gravar logo algumas entrevistas mesmo antes de começar a fase de filmagens, pois apesar de ainda estar na fase de captação de recursos não se poderia perder a oportunidade estando no Rio. Fomos então no apartamento de Antonietta onde a mestra estava bem aparentemente (haviam me dito que a saúde já estava bem ruim), elétrica como sempre. Até pensei que novamente era um alarme falso e para nossa felicidade ela ainda ia dançar muito. Ela deu um depoimento aberto, sem pudores, durante cerca de uma hora. Falou do câncer de anos atrás e como o venceu. Falou detalhadamente sobre o estupro que sofreu ainda moça aqui no Rio. Enfim, foi Maria Antonietta como eu e muitos conheceram, autêntica e sem preconceitos. Em seguida, aproveitando, fiz a minha entrevista, meio de sopetão, mas pelo menos consegui fazer, mesmo que tenha sido bem curta.
Sinto a felicidade de te-la conhecido ainda em forma. A primeira vez que a vi ao vivo foi na Domingueira do Circo Voador em 1993 ou 1994. Anos depois comecei a frequentar os bailes da Escola de Dança Maria Antonieta (que levava o nome dela e pagava esse uso a ela) e Antonietta quase sempre estava neles. Em 1997 comecei a militar no meio profissional, lancei meu site (dancadesalao.com - Agenda da Dança de Salão Brasileira) e comecei a pesquisar para meu livro. Nessa época a conheci pessoalmente e minha maior alegria foi quando ela começou realmente a saber meu nome, alegria de tiete. Desde então criei o site dela (www.dancadesalao.com/antonietta). Fui várias vezes em seu apartamento pesquisar para meu livro e para o próprio site dela e ela sempre de portas abertas e colaborativa. Homenageei-a em bailes que promovi e tive ela como professora no evento que realizei, o Salão Rio Dança, em algumas das edições realizadas. Foi também madrinha no meu casamento realizado no próprio salão da Escola de Dança Maria Antonieta, alugado como salão de festas na ocasião.
Encerra-se um ciclo na Dança de Salão carioca. A mestra mais do que a professora de Jaime Arôxa ou Paulo Araújo, foi e sempre será o grande símbolo da Dança de Salão do Rio de Janeiro. Pois apesar de amazonense ela chegou adolescente ao Rio e aqui aprendeu a dar aulas de dança. Também nunca foi a grande dançarina de bailes, sempre foi a grande professora de dança de salão, ativa durante décadas e mantendo a chama do ensino da dança acesa.
Na próxima edição do jornal Falando da Dança escreverei uma mini-biografia, chamada técnicamente de obituário, mas prefiro chamar de mini-bio. Nessa edição teremos várias outras matérias a respeito dela, afinal, será também o mês do aniversário da mestra.
Coordenador Geral
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