Bailarinos do Tanztheater Wuppertal:
nova peça de Pina Bausch
se inspira no Chile
A última peça da companhia de Pina Bausch estreou há pouco na recém-reformada ópera de Wuppertal, que já abrigou outros tantos espetáculos bem-sucedidos da coreógrafa. "Uma Peça de Pina Bausch 2009" é o título provisório da peça, aclamada com longos e entusiasmados aplausos por parte do público.
Um sucesso cujo segredo Cornelia Albrecht, empresária da companhia, tenta explicar. Segundo ela, a força de Pina Bausch reside na seriedade do trabalho, na tentativa de transportar uma ideia e investir 100% de si. Tudo isso com grande perfeccionismo e uma busca de verdade e beleza. "Verdade e beleza são conceitos elevados, mas descrevem bem o trabalho da coreógrafa", diz Albrecht.
No fim de seu mais recente espetáculo, os bailarinos e bailarinas não voltam individualmente ao palco, mas em grupo, com a coreógrafa entre eles. Ou seja, a apresentação é vista como o resultado de um trabalho coletivo, num contexto em que todos merecem o mesmo aplauso.
Nacional ou internacional?
Definir a "nacionalidade" do Tanztheater Wuppertal é também uma questão complexa, comenta diplomaticamente Albrecht, para quem a estrutura em torno de Pina Bausch é a de "uma companhia sediada na Alemanha e enraizada em Wuppertal, mas que faz parte do teatro internacional e global".
Quem der uma uma olhada no folheto de programação da atual peça da companhia, achará os nomes dos bailarinos, sem porém, conseguir encontrar os dos "personagens". Uma forma pouco convencional de representação, na qual os bailarinos se autorepresentam.
Espaço para a individualidade
No processo de criação de suas peças, Pina Bausch costuma deixar os bailarinos da companhia mostrar durante os ensaios aquilo que gostariam de dançar. A seguir, ela oferece a eles música como forma de inspiração ou eles mesmos já contribuem com sugestões musicais próprias.
Uma forma de criação que valoriza, em cada espetáculo, a individualidade dos integrantes da companhia. Para Pina Bausch, todo bailarino é um solista, um pensamento avesso ao balé tradicional.
O Tanztheater de Wuppertal conta hoje com mais de 50 membros, dos quais 30 bailarinos e bailarinas vindos de vários países do mundo. "Temos em palco bailarinos de tantas nacionalidades diferentes: da Coréia, do Brasil, da Espanha, Itália, França... Eu ainda poderia citar inúmeros países e mesmo assim ainda estaria esquecendo algum", diz Albrecht.
A coreógrafa Pina Bausch:
trajetória de inovação da dança
Relação entre gêneros
Pina Bausch foi uma revolucionária quando jovem, ao abolir o balé para criar o teatro-dança, que não estabelece hierarquia entre solistas e corpo de dança. Uma mudança de pensamento que trouxe, naturalmente, consequências estéticas.
Pina Bausch é, em princípio, uma coreógrafa realista, no sentido mais audacioso da palavra. Um exemplo disso: no balé tradicional, a relação entre os gêneros ainda é convencional; o príncipe levanta a princesa sem nenhum esforço aparente. O homem é forte e a mulher bela.
Um pas de deux como esse jamais será encontrado nas peças de Pina Bausch, já que a coreógrafa evita todo tipo de transfiguração. Nas obras de Bausch, o encontro entre um homem e uma mulher é na maioria das vezes um verdadeiro desastre – às vezes cômico, às vezes trágico.
Durante os ensaios, a coreógrafa concebe a peça a partir de sugestões dos próprios bailarinos. Além da relação entre homem e mulher, outros temas recorrentes em suas obras são a tensão entre indivíduo e grupo ou, de forma mais genérica, entre indivíduo e sociedade.
Melancolia vinda do Chile
Em sua mais nova peça, o tema dominante é a tensão entre os gêneros, num contexto em que cada um quer ser amado, mas, ao mesmo tempo, teme amar o outro. Com tons mais melancólicos do que alegres, o espetáculo recém-estreado em Wuppertal inclui na trilha sonora canções de amor chilenas, trazidas por Pina Bausch da temporada de estudos da companhia no país, onde a coreógrafa e seus bailarinos passaram três semanas em fevereiro último.
Hoje, Bausch consegue dar continuidade a seu trabalho sem se preocupar muito em ter que captar recursos financeiros, pois a classe política finalmente enxergou o quanto seu trabalho é importante para a Alemanha e principalmente para Wuppertal, cidade à qual ela se mantém fiel.
"O Tanztheater é uma instituição organizada de forma autônoma. É claro que ele é a instituição de Pina Bausch e também seu projeto pessoal", conclui a empresária Albrecht.
Autor: Ulrich Fischer
Revisão: Simone Lopes
fonte: