Recentemente premiado com o APCA de melhor concepção de dança em 2008 pelo espetáculo Hagoromo, o diretor Fabio Mazzoni retoma, seis anos após o espetáculo Amor Fati, a parceria com a bailarina Jacqueline Gimenes (foto), e dá continuidade à pesquisa cênica com o coreógrafo Sandro Borelli, com a estreia do espetáculo Procurando Schubert, no dia 4 de junho, no SESC Consolação.
Fabio Mazzoni traz em sua trajetória espetáculos onde o tempo é dilatado e a palavra é substituída por movimentos corporais emergidos de um intenso contraste entre luz e sombra. Foi assim em Amor Fati, em que centenas de velas – apenas velas - eram acesas e apagadas durante a encenação. Em Wotan, também em parceria com Borelli, cinco panelões industriais foram distribuídos no corredor de um bunker. Em Hagoromo, somente um panelão e quatro movimentos de luz desenhavam a mais simples e, talvez, a mais complexa iluminação de sua pesquisa.
Já em Procurando Schubert a personagem surge da mais negra escuridão e circula pela sombra, atravessando, em alguns momentos, feixes de luz por meio da manipulação de pequenas lanternas feitas pela própria intérprete.
A luz no palco não se restringe apenas a iluminar a intérprete ou o cenário. Na maior parte do tempo, os movimentos se desenvolvem à sua sombra, escondendo, criando tensão, mistério e induzindo, assim, a emoção do público a uma atmosfera mágica, próxima da sensação vivenciada durante os sonhos.
Novamente o que está em questão e define, de certa maneira, a narrativa do espetáculo, é a dificuldade de enxergar o que está se passando em cena.
É preciso forçar o olhar e descobrir o que está acontecendo na penumbra. Como tudo se desenvolve lentamente, sem compromisso com o tempo linear, faz-se a atmosfera ideal para algumas imagens emergirem do inconsciente do espectador, e ele próprio cria as conexões possíveis para apreender ou sentir o que está se passando em cena.
“Este jogo requer mais que boa disposição. Mais cômodo seria preencher cada instante com luzes, barulhos e atividade. Mas, a chamada ao vazio, ao crepúsculo é, na verdade, um meio muito eficaz de se percorrer os escombros dentro de nós”, explica Mazzoni.
As imagens tomam forma a partir de diversas referências. Da literatura, Shelley, Stevenson, Poe, Verne, Wells. Do cinema, principalmente Tarkovski, com Stalker e Solaris, e David Lynch com Eraserhead. Nas artes plásticas, um pouco de Giger e Ernst Fuchs.
Procurando Schubert é uma ficção científica que aborda um assunto contemporâneo: o declínio da civilização humana causado pelo próprio homem em desarmonia com o seu planeta. Mas, apesar do tema em questão, não se configura em campanha ecológica. É antes substrato de uma pesquisa estética/dramática iniciada há seis anos com os experimentos para Amor Fati. E, principalmente, metáfora da amarga realidade do mundo: O mundo perfeito, idealizado pelo romantismo, está totalmente subjugado e podemos estar diante de nossos últimos passos sobre a Terra.
O solo de Jacqueline Gimenes é conduzido por algumas ‘coreografias’. Na verdade, não existe formalmente o que é chamado de coreografia. Seus movimentos surgem de um ‘estado’ ininterrupto induzido pelo coreógrafo e pela ambiência da cena. Não há início/meio/fim de um movimento. Sem pausas, a intérprete lança mão de sua experiência e informação corporal para personificar esta criatura amorfa e rastejante.
Composto de poucos objetos cênicos, o cenário é um espaço aberto, descampado e delineado por total escuridão, que existe apenas quando iluminado pelas pequenas lanternas de mão.
Sinopse
Em algum lugar do universo, uma forma de vida inteligente recebeu sinais de rádio emitidos do nosso planeta.
Comovida com a magnífica e inaudita sonoridade de uma canção de Schubert, a criatura parte em busca do local de origem dessa música, mas, ao chegar à Terra, encontra somente escombros do que um dia já foi a civilização humana. A música que tanto a comoveu já não existe mais. Em seu lugar, apenas um trecho da ópera Mefistofele, de Boito. É a célebre ária do epílogo, Giunto sul passo estremo, em que Fausto, persuadido pelo demônio, já velho e cansado de tantas aventuras, descobre que sua morte está muito próxima. As palavras de Fausto traduzem a ambição do ser humano.
Ficha técnica
Concepção e direção: Fabio Mazzoni
Direção de movimento: Sandro Borelli
Interpretação: Jacqueline Gimenes
Direção de arte: Gustavo Lanfranchi
Diretores assistentes: Ana Prado e Eric Lenate
Iluminação e trilha sonora: Fabio Mazzoni
Fotos: Emídio Luise
Estreia: Dia 4 de junho de 2009. Quinta, às 21.
Temporada: 4,5,12,18,19,25,26 de junho, às 21h. Duração aproximada: 45 minutos – Recomendado para maiores de 16 anos
Espaço Beta – 3º andar - 45 Lugares
Ingressos: R$8,00 (inteira) / R$4,00 (usuário matriculado no SESC e dependentes, +60 anos, estudantes e professores da rede pública de ensino) / R$2,00 (trabalhador no comércio e serviços matriculado no SESC e dependentes).
Workshop com os artistas criadores
Abordando a linguagem híbrida entre a dança e o teatro, o workshop coloca os participantes em contato com o processo de criação dos artistas Sandro Borelli, Fabio Mazzoni e Jacqueline Gimenes. Os criadores do espetáculo Procurando Schubert estabelecem um diálogo entres essas linguagens, passando por técnicas de preparação física, treinamento e exercícios específicos de aquecimento, alongamento e movimentações. Os workshops são direcionados para o trabalho de construção da cena a partir de práticas corporais que nutrem a técnica contemporânea com a interação entre movimento e dramaticidade.
Jacqueline Gimenes - Dia 13/6, das 14h às 18h.
Sala Gama. Recomendado para maiores de 18 anos.
Fabio Mazzoni - Dia 20/6, das 14h às 18h.
Sala Gama. Recomendado para maiores de 18 anos.
Sandro Borelli- Dia 27/6, das 14h às 18h.
Sala Gama. Recomendado para maiores de 18 anos.
Vagas limitadas. Inscrições até o dia 04/6, através do email dança@consolacao.sescsp.org.br. Os interessados devem encaminhar, via email, cópia do currículo e carta de interesse.
Sobre o diretor
Fabio Mazzoni
Iniciou seus estudos dramáticos em 1995 no CPT – Centro de Pesquisa Teatral do SESC, com o diretor Antunes Filho, onde permaneceu por seis anos. Em seguida, convidado por Gabriel Villela, foi seu diretor assistente, diretor de movimento e diretor de ator em diversos espetáculos, sendo o último deles Esperando Godot.
A partir de 2005, teve início sua pesquisa estética focada na intersecção da dança com o teatro. Como resultado, estreou o espetáculo Amor Fati, interpretado por Jacqueline Gimenes e coreografado por Mário Nascimento. Ainda em 2005 foi convidado pelo Maestro Diogo Pacheco para ser diretor cênico da récita Madrigal Crescendo, no Teatro São Pedro.
Em 2006, foi convidado pelo Balé Da Cidade De São Paulo para dirigir Fragmentos Mozartianos, com Cia. 2 do Balé da Cidade.
Em 2007, foi convidado pelo SESC Consolação para participar do projeto Territórios Da Dança, que colocava em foco a intersecção da dança com o teatro a partir de seus trabalhos e dos trabalhos do coreógrafo Sandro Borelli estreou o espetáculo Wotan, resultado dessa parceria.
Em 2008, convidado pelo SESC Pompéia, estreou o musical Blake Out.
Logo depois, recebeu o Prêmio Klaus Vianna de dança, estreou o espetáculo Hagoromo, O Manto De Plumas, concebido e dirigido para a bailarina de butô Emilie Sugai. Hagoromo foi convidado pelo Centro Cultural São Paulo para participar do Encontro Cênico Brasil e Espanha – Linguagens Híbridas.
Por este espetáculo Mazzoni recebeu o Prêmio APCA de Melhor Concepção de Dança de 2008. Ainda em 2008 dirigiu, também em parceria com Sandro Borelli, a performance Welcome To The Machine, para o projeto Corpoinstalação do SESC POMPÉIA.
Todos os espetáculos de Mazzoni contaram com a participação do cenógrafo J.C. Serroni na concepção do espaço cênico e dos figurinos.
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