quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Talin: Capital Cultural Europeia em 2011


publicado na

03.01.2011

A capital da Estônia será um das capitais culturais da Europa em 2011. O título concedido pela União Europeia a cada ano significa um fluxo de verbas de aproximadamente dois milhões de euros para os cofres da cidade.



Cidade medieval na costa do Mar Báltico

Após o projeto gigantesco que cotemplou a região do Vale do Ruhr, na Alemanha, como capital cultura europeia em 2010, a escolha de Talin parece uma ideia modesta, embora não menos ambiciosa. A ideia é fazer com que a cidade "se aproxime do mar", anunciam os organizadores.
Há  mais de mil anos navios e balsas levam visitantes à portuária Talin, localizada no Mar Báltico. Tanto as influências culturais quanto os conquistadores chegaram por via marítima, brincam os estônios. Os últimos a tomarem a cidade foram os soviéticos.
"Durante o tempo de ocupação soviética, o centro da cidade foi separado do mar, porque ali era uma região militar e industrial, cujo acesso público não era permitido", conta Maris Hellrand, da Fundação Talin 2011. "Quermos mudar isso agora e abrir essa área para a cultura", diz ela.
Quilômetro cultural à beira mar
Hellrand, que organiza o projeto Capital Cultural na cidade, pretende contar histórias relacionadas ao Mar Báltico em projetos de cooperação com artistas da Estônia e de toda a Europa. Entre os portos onde ancoram as balsas deverá ser criado um "quilômetro cultural" e fundado um Museu Marítimo, a ser inaugurado somente em meados deste ano, nas antigas instalações de um hangar soviético. Sob três grandes cúpulas de concreto serão exibidos tesouros encontrados no mar, entre estes o único submarino fabricado na Estônia. Antigos contêineres serão restaurados por artistas que trabalham com graffitti.


Contêiner à beira mar, onde será construído Museu Marítimo

E vai haver também muito canto, pois a Estônia é a terra dos coros, diz Aarne Saluveer, presidente da Associação Estoniana de Coros. "Os estonianos contam sua vida e suas histórias cantando. Essa é nossa tradição oral. Até hoje preservamos assim nossa história", explica Saluveer.
Revolução através do canto
Um dos pontos altos do projeto Capital Cultural será um Festival de Canto da Juventude, agendado para o início de julho próximo, no qual 25 mil jovens irão formar um coro gigantesco. É interessante lembrar que, no fim dos anos 1980, os estonianos protestaram contra a ocupação soviética do país. E fizeram isso cantando. Uma nova consciência nacional surgiu a partir do canto de milhares de pessoas, através de uma revolução pacífica, recorda Saluveer. "Não lutamos nas ruas e derramamos sangue, mas expressamos cantando nosso anseio pela liberdade. Por isso o canto é tão importante. Sem sangue."
O festival será uma oportunidade para "as pessoas que não conhecem a Estônia nem a cultura do país olharem para a alma dos estônios durante este fim de semana. Para ver o que somos e porque somos assim", diz Hellrand. O evento irá reunir aproximadamente 250 projetos ligados a histórias que têm ligação com o mar, embora o significado de "marítimo" neste contexto seja bastante amplo.
Passado com a KGB
O Museu de Arte da Estônia, por exemplo, irá contribuir com instalações de vídeo de artistas europeus, que erigiram portões virtuais em toda a cidade de Talin. "Teremos artistas contemporâneos muito interessantes, criando objetos não vistos normalmente. Eles criam portões, através dos quais é possível adentrar uma realidade virtual e comunicar-se. Vai ser muito interessante, especialmente para o público jovem", anuncia Anu Livak, diretora do Museu.


KUMU: Museu de Arte

Nessas instalações, o  mar terá um papel importante, como na obra de Eija-Liisa Athila, por exemplo, que projeta sua história em telas de grande formato a partir de sua casa à beira-mar. Já Peep Ehasaloo pretende revelar uma história até hoje não contada: a do Hotel Viru, para o qual ele trabalha, que inaugurará um museu sobre o passado da edificação como local de trabalho de espiões da KGB.
O serviço secreto soviético costumava grampear as conversas dos hóspedes do hotel de forma sistemática e espionava tudo e todos em Talin. Os equipamentos de espionagem ainda existem na cidade. Peep Ehasaloo reuniu histórias de pessoas que trabalharam ali naquela época.
"Nós achamos que continua importante contar nossa história da era soviética. As pessoas devem saber como isso se deu e como era aqui antigamente. Hoje Talin é uma cidade ocidental moderna. Há 20 anos, era uma sociedade completamente diferente, uma outra cidade", descreve Ehasaloo.
Do último andar do hotel, tem-se uma vista fantástica sobre Talin e o mar. O hotel soviético era, antigamente, o único aranha-céu da cidade medieval. Hoje, a paisagem urbana é composta de bancos e shopping centers, que até escondem o Hotel Viru.
Crise afeta projeto
Para Maris Hellrand, a crise econômica, que também atingiu a Estônia, significou um aperto de cintos. Dos 40 milhões de euros planejados originalmente para o orçamento do projeto Capital Cultural, sobraram apenas 16 milhões, com uma redução no número de projetos a serem realizados.


Castelo em Talin

"Por sorte não tivemos que desistir de nada por falta de verbas. Além disso, encontramos também outros recursos para muitos projetos, ou seja, não estamos sendo financiados única e exclusivamente pelo projeto Capital Cultural", explica Hellrand. O envolvimento de 800 voluntários é uma das estratégias usadas para baratear os cutos. A estudante Evelin Tamm é uma entre eles e trabalha no centro de informações de Talin.
"A cidade vai receber muitos estrangeiros, mais do que nunca, espero", fala Tamm entusiasmada. "Quero participar, ajudar as pessoas, me divertir. Não pergunto o que vou receber de volta, só quero fazer algo", diz a estudante, que já viveu na Alemanha e agora mora de novo com seus pais em um bairro de Talin, distante do centro, à beira-mar.  "O ar aqui é diferente, perto da mata e do mar. As pessoas também são diferentes. É simplesmente mais fácil relaxar e ter tempo para mim", descreve a estoniana.
Autor: Bernd Riegert (sv)
Revisão: Francis França