quarta-feira, 6 de maio de 2009

Porto Alegre-RS: Corte


 Silvia Caminha
escreveu 



espetáculo  CORTE teatro de dança
(Corte: sm  Ato de cortar (se); interrupção; redução.)



foto: Carlos Sillero 

Estréia sábado, dia 9 de maio, o espetáculo CORTE, do premiado diretor Decio Antunes. CORTE é a mais recente produção da companhia de arte cênica JogodeCena, de Porto Alegre. O espetáculo tem o financiamento parcial do Fumproarte e o Patrocínio do Grupo CEEE, através da Lei Federal de Incentivo à Cultura.

           O espetáculo reúne em seu elenco sete bailarinos, com direção de Decio Antunes, coreografias de Maria Waleska Van Helden, cenografia de Felix Bressan e figurinos deCoca Serpa.

            CORTE fundamenta-se nas obras de autores da dramaturgia clássica e contemporânea, enfocando o que trouxeram de questionamento sobre a condição humana em seu tempo e que permanece como centro das discussões contemporâneas.

A exemplo de outras produções dirigidas por Decio Antunes - Mulheres Insones - baseada nas obras míticas e psicológicas de Nelson Rodrigues, e A Casa, baseada em A Casa de Bernarda Alba, de Federico Garcia Lorca - esta criação baseia seu processo artístico na análise de obras da dramaturgia clássica e contemporânea, extraindo delas núcleos dramáticos, imagens poéticas e personagens que serviram de base para estudos de corporeidade, de conexões entre as situações das obras com acontecimentos contemporâneos para compor a partitura coreográfica e cênica.

As apresentações acontecerão no Teatro Museu do Trabalho - Rua dos Andradas, 270. A temporada vai até julho de 2009, com apresentações sextas e sábados às 21h, e domingos às 20h. Os Ingressos custam R$ 20. Idosos e estudantes tem 50% de desconto. 

Crédito das fotos: Carlos Sillero
Assessoria de comunicação:

Silvia Caminha

51 9718-4622



foto: Carlos Sillero


Qual o tema que norteará a obra?

CORTE pretende refletir sobre a história contemporânea naquilo que a caracterizou desde o início: a égide da violência com o ataque ao World Trade Center, que mergulhou o mundo numa era de desconfianças mútuas entre nações e culturas. Controles extremos em nome da segurança promoveram retaliações em países e obscureceram verdadeiras intenções de poder geopolítico; ser imigrante, a simples cor da pele e opção religiosa fez recrudescer a violência gerada pela intolerância e preconceitos; mesmo o Brasil se viu envolvido com o assassinato de Jean Charles num metrô em Londres, suspeito de ser um terrorista.

Anterior a tudo isso, a proximidade do ano 2.000 já acendera e conturbara a imaginação do homem, tornando-o uma espécie de marco divisório do fim ou reinício da aventura humana. Prognósticos místicos do final dos tempos; Bug do milênio; a iminência de uma guerra nuclear pelo descontrole dos computadores; realização de inventários de contradições e contrastes, como a da convivência do mais vertiginoso desenvolvimento tecnológico com o atraso, a permanência da barbárie e da miséria em escala planetária.


Em CORTE, as personagens são em sua grande maioria mulheres. Esta ênfase é dada na encenação por ter sido a mulher quem, no último milênio, passou por profundas mudanças sociais e psicológicas e esta opção adquire sua força simbólica porque dos seres humanos ela é a única capaz de gerar e dar continuidade à civilização. Contudo, na obra trabalha-se o arquétipo mítico do feminino atravessando os tempos a partir das obras de autores clássicos e contemporâneos (Sófocles, Eurípides, Shakespeare, Beckett, Lorca, Heiner Muller) - personagens emblemáticas que surgem como fantasmagorias. Nesse vagar, na perplexidade da solidão, são assaltadas por lembranças, que as levam a refletir sobre sua natureza no limite histórico. Instinto maternal, a dor pela perda diante da guerra, paixão e vingança, traição e ciúme, a aceitação da morte como solução para o êxito da sociedade, a busca de poder, misturam-se num dilacerado e fascinante questionamento sobre a condição humana numa situação limite, são algumas das referências que servirão ao processo de criação.

 foto: Carlos Sillero


Como será o figurino e cenário?

O espetáculo de dança-teatro CORTE, na sua opção estética, trabalha em um espaço arquitetônico diferenciado (Teatro do Museu do Trabalho, adaptado à encenação, cenografia de Felix Bressan e o diretor), tratado como signo dentro da obra, e a que se imprime a busca de uma relação especial palco-platéia, características da produção e pesquisa cênica da JogodeCena nos últimos anos, voltadas para processos artísticos no teatro de dança, performances urbanas e utilização de fontes da dramaturgia no trabalho de composição coreográfica e cênica com o intérprete.


CORTE mergulha nessa atmosfera de final de milênio e inventário flagrando em termos cenográficos um espaço que se caracteriza metaforicamente como uma avenida urbana em escombros, e onde na relação espacial cena/espectador, este será colocado ao longo dessa avenida, como testemunha desse limite histórico.

Nos figurinos (criação de Coca Serpa), de forma paralela, conviverá o contemporâneo e o histórico, que, sem preocupação de reprodução estrita, se conformará como ação do tempo no desgaste dos tecidos, compondo o caráter de fantasmagoria das figuras. Na iluminação (criação de Guto Greca) a luz de cena interage com o amalgama de luzes advindas de tela de tv e computadores.

Elenco

Cristina Camps

Fabiane Severo

Graziela Silveira

Maria Albers

Patrick Vargas

Robson Duarte

Stela Menezes




foto: Carlos Sillero