Diário do Nordeste
publicou
5/12/2009
Inclusão social pela dança
A dança como instrumento de inclusão social está dinamizando o cotidiano de jovens na zona rural de Caucaia
Caucaia. A falta de opções de lazer motivou jovens da comunidade de Jandaiguaba, em Capuan, nesse município da Região Metropolitana de Fortaleza, a formarem o grupo de dança "Swing Vip". O idealizador, Leonilson da Costa Araújo, 20 anos, relembra que, em maio de 2008, reuniu seis amigos para ensaiarem passos do swing. A ideia agradou a todos. Tanto que os encontros continuaram, dando origem ao "Swing Vip", que hoje já conta com 20 jovens entre 13 e 20 anos. Todas as terças e quintas-feiras, das 17 às 19 horas, eles ensaiam na quadra da Escola de Ensino Fundamental Maria Helena Moreira da Silva, na própria comunidade da Jandaiguaba.
Ele explica que o swing é uma dança bastante ritmada e, quando apresentada em grupo, lança o desafio para os participantes desenvolverem a coreografia todos ao mesmo tempo, evidenciando a beleza da sincronicidade do coletivo. "É necessário que o dançarino tenha muita flexibilidade de corpo, ser bastante sorridente para passar a verdadeira alegria para a plateia", afirma ele. A trilha sonora, a chamada "swuingueira" tem músicas de grupos do Nordeste como "Ginga Samba", "Fumê Samba", "Os Bambas", "Regatone", "Swingão", entre outras bandas.
Objetivo alcançado
Leonilson diz que, mesmo diante das dificuldades, seu objetivo ao criar o grupo vem sendo alcançado: livrar os jovens da comunidade de situações de vulnerabilidade social, tais como risco de violência e envolvimento com drogas. "É muito melhor estar dançando no grupo do que correr o risco de se envolver com drogas".
Por enquanto, os jovens contam com o apoio apenas de familiares e amigos. O diretor da escola, professor Narciso da Costa de Oliveira, e a coordenadora, Mikaelle Sales Gondim, tia de Leonilson e também integrante do grupo, são os grandes apoiadores dos estudantes. Eles já fizeram cerca de dez apresentações em escolas e casas da comunidade e na associação de moradores do lugar. Os maiores de 18 anos também já participaram de festa numa casa de shows de Capuan.
O exercício da criatividade também é uma constante no trabalho dos jovens. As coreografias são criadas pelo próprio Leonilson, que também aceita colaboração de alguns amigos na criação dos passos. A internet é outra fonte de pesquisa para a formatação de alguns números de dança.
"Muitos jovens daqui têm o Swing Vip como o único local de lazer e divertimento", destaca ele, observando ainda que os próprios pais dos estudantes veem o valor do trabalho. "Muitos pais dizem que é melhor ver o filho no grupo de dança do que na rua, exposto a riscos".
Conforme o jovem, a Jandaiguaba é uma comunidade que vive o drama da carência em muitos setores. Muitas estradas ainda são de terra, com pavimentação precária; o transporte coletivo não atende a toda a comunidade; os espaços de lazer se resumem à praça principal de Capuan e às quadras das poucas escolas do lugar. Ainda assim, a comunidade é rica em manifestações culturais.
"Temos muitas iniciativas culturais na comunidade, mas falta apoio", lamenta ele, complementando que os poderes públicos deveriam valorizar mais os trabalhos da comunidade na área da cultura.
Atenção dos governantes
Pensando da mesma forma,Mikaelle avalia que precisa haver, por parte dos governantes, mais atenção quanto às manifestações artísticas que já existem na própria comunidade, mas enfrentam dificuldades de continuidade por não receberem nenhum apoio.
Um exemplo é o grupo "Brincantes da Jandaiguaba", que preserva as tradições do Bumba-meu-boi, com todos os seus personagens típicos como Jaraguá, Burrinha, Mateus, entre outros. Esses artistas populares mantém o grupo, mas enfrentam precariedades básicas como, até mesmo, transporte para apresentação do grupo, quando este recebe algum convite para apresentação.
Ela conta que decidiu apoiar e participar do grupo de dança porque viu na iniciativa do sobrinho um meio para inclusão social dos jovens, uma vez que dá alternativas para que eles fiquem livres de situações de risco, comuns atualmente, como violência e drogas. "Eu dou total apoio na participação deles, também orientando sobre como melhor desenvolver esse trabalho", afirma ela.
Uma das jovens participantes do grupo é a estudante Luana Agostinho Nascimento, 15 anos. Ela diz que um dos fortes motivos para "entrar na dança" é porque faz se sentir bem, melhora sua autoestima.
Luana, assim como os demais participantes, também reclama da falta de opção de lazer na comunidade e vê o swing como um meio de melhorar sua interação social.
No grupo, ela já fez muitos novos amigos e, o que é melhor, em um ambiente seguro, com o consentimento de seus pais.
ENQUETE
Como se sente ao participar do grupo de dança?
GOSTO de estar no meio dos jovens, cooperando no que posso. Na nossa comunidade, falta apoio para a cultura
MIKAELLE SALES GONDIM
20 ANOS
Agente administrativa
Acho legal estar no grupo, dançando com os amigos. A gente não fica na rua exposto a risco e fortalece as amizades
Julismar Lima do Nascimento
16 ANOS
Estudante
ME SINTO bem participar da dança. É muito legal aprender novos passos. É uma opção de lazer na coumunidade onde moro
LUANA AGOSTINHO NASCIMENTO
15 ANOS
Estudante
É muito melhor estar dançando no grupo do que correr o risco de se envolver com drogas. Por isso criei o Swing Vip
LEONILSON DA COSTA DE ARAÚJO
20 ANOS
Estudante
MAIS INFORMAÇÕES
Grupo de Dança Swing Vip, com jovens estudantes da comunidade da Jandaiguaba, Caucaia
(85) 87.053935
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