Diário Catarinense
publicou
15 de setembro de 2009
Operário da dança
Hector Bohamia apresenta seu Estado de Liberdade em Florianópolis
Um coreógrafo que não tem medo de dizer o que pensa, Hector Bohamia já estampou a capa de jornais importantes, mas nem por isso deixa de trabalhar. Aos 43 anos, dos quais 28 foram dedicados à arte, Bohamia está em sua segunda turnê mundial com o espetáculo Estado de Liberdade, que apresenta hoje, na Capital.
Bohamia nasceu na Argentina, filho do cônsul da Síria naquele país, mas já viveu em Caracas, Paris, na Suíça e há muitos anos está radicado em Frankfurt, na Alemanha. Colaborou como professor e coreógrafo para a Ópera de Frankfurt, integrou durante seis anos a companhia de Pina Bausch – célebre coreógrafa alemã que morreu em 30 de junho deste ano – mas faz 15 anos que trilha seu próprio caminho, com vocabulário particular, num trabalho independente.
O expressionismo perpassa todo o programa da encenação solo que Bohamia está levando para o mundo. Está dividida em três partes: Ich bin der welt abhanden gekommen, ¿Me quisíste, alguna véz...? e Yo-Yó. A cenografia tem três toneladas, mas foi adaptada para Florianópolis e demais cidades onde o teatro não tem a estrutura de som e de luz necessários para o espetáculo.
– É o mesmo programa que já levei à Alemanha, Bélgica, Hungria, Rio de Janeiro e outras cidades. Não é pequeno, mas é mais minimalista, é possível de adaptar. Eu não paro de criar, mas tenho de ser realista. Tem a ver com minha vontade de seguir por todo o país, não só as capitais, mas as cidades do interior, onde aprendo mais em nível pessoal. Nas grandes cidades, você tem de tudo e as pessoas não têm nada, não têm sossego, vivem com uma loucura, de forma robótica. Apesar de haver muito que fazer nas pequenas cidades, sinto que há vida – revela o bailarino.
Bohamia é considerado um artista polêmico. Apesar de sua arte ser vista como elitista, não se considera assim. Diz que pensa no povo, sempre.
– As pessoas infelizmente não têm acesso à cultura, se confunde coisa massiva com meio artístico e cultural. Os teatros na América Latina estão maltratados, a cultura está deixada de lado, não é necessária para políticos. Eu vou contra as regras preestabelecidas, nunca fui artista de massa, mas sou um operário da cultura, não um bailarino. A felicidade maior de qualquer artista é poder mostrar sua arte para as pessoas. Eu sou um homem muito feliz, por poder fazer o que eu quero e dizer o que eu quero. É uma felicidade enorme. É daí que vem o título da turnê, Estado de Liberdade, é assim que me sinto, totalmente livre.
Ich bin der welt abhanden gekommen tem o réquiem de Johannes Brahms e música tradicional africana. ¿Me quisíste, alguna véz...? tem músicas de Carlos Gardel e Caetano Veloso, com um toque da obra do cineasta alemão Fassbinder.
Fecha o programa Yo-Yó, que cita o Bolero de Ravel, misturando erudito com popular.
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