Às vezes somos pegos de surpresa com alguns eventos que nos acontecem. Isso realmente aconteceu comigo há alguns anos atrás. Eu tinha um estúdio de dança,e este claro tinha sua publicidade em uma revista com telefone e endereço. Um dia atendo a um telefonema de uma mãe “aflita” me indagando se eu dava aula de axé para crianças. Minha reação foi um susto, pois isso nunca havia passado pela minha cabeça e ainda mais ser procurada para tal ação.
Enfim respondi com delicadeza que minha área na dança não era axé e ainda expliquei com quais conceitos de corpo e movimento eu trabalhava, mas a mãe aflita não estava muito atenta ao meu discurso didático pedagógico. Depois de alguns minutos ela me interrompe dizendo: “querida o que eu quero saber é se você pode dar uma aula de axé hoje para minha filha de quatro anos, pois ela está num concurso na televisão”.
Quase caí da cadeira, me senti uma dinossaura diante de tanta objetividade e pressa da “mãe aflita”. Bom se ela era objetiva eu também sou e respondi: “Querida aqui não se dá aula de axé e na verdade que eu saiba nunca vi uma aula de axé para crianças e caso você saiba aonde tem nem me comunique”.
Ela ainda me disse: “eu pago bem viu? “ Respondi: “sinto muito e até logo.”
Depois de desligar fiquei realmente atônita com a situação bizarra. Tipo: como assim?
Aula de axé para um concurso... “eu pago bem”?
Mas esse evento sempre me vem à lembrança quando discutimos nosso papel como professores e difusores de um conceito de corpo e movimento. Pois a força da mídia é imensa quase esmagadora diante desses corpinhos inertes diante da TV, me entristece ver mães pais e familiares elogiando seus filhos (as) por saberem fazer direitinho,tal coreografia, penso no meu silêncio: pequenos repetidores e não imitadores.
Imitar é bacana divertido, pois quando imitamos estamos colocando nossa alma junto, mas quando repetimos estamos reproduzindo um padrão que nos foi imposto. Digo isso especificamente do objeto mídia televisiva quantas crianças só tem a tv como lazer e “fonte” de informação? Muitas, mas muitas mesmo. E assim vai e está sendo de geração em geração...
Nós seres atuante na cultura temos também que nos movimentar, aproveitar todas as situações possíveis para colaborar com a despoluição da “fonte”.
A TV pública já é uma realidade, assim quem sabe já podemos “sonhar- realizar” programas infantis e juvenis que tragam fontes da nossa cultura corporal é de imensa valia, imitar o Boi, dançar sua história tão linda,criar uma dança com tecidos lembrando roupas no varal, dançar com o corpo e não com a imagem imposta, isso sim é vida de criança! Isso sim é cultura, pois ela está registrada em nossos corpos, em nossas ações.