Democrata Digital
publicou
23/9/2009
Estudar, dançar e... brilhar
Quando o balé surgiu na Itália renascentista há mais de 500 anos, poucos eram os movimentos corporais, pois no início exigia-se muito mais gestos e expressões, normalmente improvisados. O balé antigo era bem mais conhecido por utilizar uma forma rústica e sua leveza característica atual passava longe de ser priorizada naquela época.
A dança fazia parte de espetáculos circenses e desta forma é que foi migrada para a França onde, nas cortes reais de Paris, se oficializou e mostrou-se para o mundo adotando a forma como é hoje. Com a entrada do príncipe Luiz XIV na Academie de Musique et de Danse, formada durante o reinado de Luis Xlll, seu pai, os movimentos corporais se tornaram mais leves e, consequentemente, os passos se tornaram mais nobres aos olhos do povo. A curiosidade maior é que a companhia foi fundada apenas para abrigar o príncipe.
O balé naqueles tempos se rotulou como uma dança masculina, ou seja, mais praticada por homens, as mulheres também dançavam, mas dificilmente participavam de espetáculos por conta das roupas grandes e desconfortáveis. As danças continham movimentos leves, a diferença é que tudo era masculinizado.
Algum tempo se passou e o balé se mudou para a Rússia, país que hoje é muito conhecido por abrigar os maiores bailarinos do mundo. Lá passou por uma fase de modernização em todos os aspectos, essencial para a sobrevivência da Arte, inclusive nas roupas e calçados. As alterações foram feitas por mulheres e como o balé era uma dança muito mais conhecida pela prática de homens, os nobres da época se espantaram com as mudanças.
A bailarina Marie Taglione foi a primeira a se apresentar usando roupas mais justas. Depois ela inovou levando para os palcos europeus as sapatilhas de ponta, possibilitando movimentos leves, delicadeza e maior sensibilidade ao estilo de dança.
O balé não demorou muito a chegar no Brasil e o fato de ter nascido na Europa gerou uma espécie de status, desta forma apenas as famílias mais abastadas tinham condições de manter seus filhos nas escolas. Hoje, felizmente, a Arte se popularizou.
EM SÃO JOSÉ
A exemplo de outros cursos artísticos, a Fábrica de Expressão em São José do Rio Pardo, mantida pelo Departamento de Esportes e Cultura — DEC, também oferece aulas de balé, gratuitamente, para todas as idades, cada uma com 50 minutos, duas vezes por semana.
As primeiras fases de aprendizado são ministradas pela professora e bailarina mocoquense Crystiane dos Santos. Ela é formada em Educação Física pela Faculdade Euclides da Cunha e pós-graduada na área, além de fazer parte da companhia Grupo de Dança e Expressão do Teatro Municipal de Mococa.
O trabalho com balé na Fábrica, segundo ela, vem alcançando seus objetivos — oferecer opções extracurriculares para crianças de todas as idades e resgatar a cultura clássica.
Crystiane afirma que a importância do balé na infância é preparar as pequenas para um futuro bem sucedido nessa Arte, ajudando a aprimorar a postura e a elasticidade, que nesse tipo de dança é algo muito importante. Ela ressalta também a responsabilidade das crianças em cumprir os compromissos semanais.
É no Baby Class que as pequenas alunas iniciam seus conhecimentos, nesta fase é muito importante que as meninas intensifiquem os trabalhos no desenvolvimento da coordenação motora, para consequentemente começarem a experimentar o que a cultura do balé tem a oferecer, “Os trabalhos são simples, e apesar de serem específicos, nesta idade são moderados”, explica Crystiane Santos.
Apesar das aulas nas fases iniciais estarem recheadas de brincadeiras, com músicas contemporâneas animadas, a professora abre espaço para a parte teórica, para não fugir do fito, que é o balé clássico.
Após a primeira etapa, as bailarinas passam para a fase Infantil, a partir dos 8 anos. Neste período os movimentos de aquecimento e de interpretação de passos começam a se tornar mais complexos, de maneira que as noções do balé clássico fiquem cada vez mais claras. As aulas abrangem todos os tipos de músicas que são essenciais para a adaptação no clássico.
Terminada essa fase, as meninas são levadas para a turma Infanto-Juvenil que começa aos 9 anos. As aulas são um pouco mais rígidas e nesta etapa as execuções dos passos básicos são exaustivamente treinadas, buscando a perfeição, tanto que se torna fácil para as estudantes executarem ‘pliês’, ‘arabesques’ e ‘en dehors’.
“A maioria das meninas guarda os nomes dos passos em francês, outras se esforçam para se lembrar sem que eu diga nada”, relata a professora.
Assim, o companheirismo e o trabalho de equipe são treinados a cada dia, pois se alguma aluna errar ou se esquecer do passo na hora dos ensaios, elas se ajudam e até opinam nas ideias que antecedem a montagem de uma coreografia.
As aulas de balé da Fábrica de Expressão seguem a grade curricular de outras escolas de renome mundial. Passos mais elaborados, como os aéreos, também são ensinados.
“Seria bom se mais homens fizessem aulas de balé, são essenciais para os trabalhos no ar, mas aqui as meninas se viram como podem”, finaliza Crystine.
Das aulas as meninas levam os ensinamentos do balé para todo lugar. Esta é uma Arte que exige horas de treinamento e mesmo assim são muitas pessoas querendo ingressar nas turmas e agarrar a oportunidade de aprender coisas novas.
As apresentações também se fazem como forma de aprendizado. Hoje, por exemplo, as bailarinas ensaiam para a Semana Euclidiana e esperam mostrar que o trabalho está sendo bem realizado e absorvido também.
O sonho da maioria das meninas bailarinas da Fábrica de Expressão é o de se apresentar nos grandes palcos. Quem sabe, no futuro, poderemos ver uma bailarina rio-pardense alcançando os seus objetivos no alto de uma sapatilha de ponta.
SERVIÇO
Balé clássico na Fábrica de Expressão
Aulas de segunda e quarta-feira,
em vários horários, para todas as idades.
Informações poderão ser obtidas pelo telefone 3681 3318.